I.
um ouvido para tua boca é pouco, precisavas logo de dois
mas se te vejo não te escuto se te ouço não te enxergo
e vês meu peito sufocando com as duas mãos ocupadas
de repente cai a noite e espatifa a máscara
mas enquanto me afogo em seco
ouve-se ao longe um eco
II.
a palavra que se parte protubera em tua boca. já não é nome, nem nada, é esboço ou uma brisa entre amígdalas, língua e dentes.
III.
ó bocarra escancarada
que encerra obturações
sapos, verrugas, baratas
e gengivas inflamadas
meu nome perdeu o sotaque
a moleza, o equilíbrio
da tua boca veio o hálito
de um hiato retorcido
IV.
dois ouvidos é o que eu tenho
um de cada lado, colados
perfuram minha cabeça
calculam meu itinerário
corpo que escorre e escapa
pelo ralo que é sentir
V.
cala-te
esqueçe
é tarde
amanhece